terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Navios começam a selecionar a tripulação brasileira para a temporada de verão

Entrei de gaiato num navio, entrei, entrei, entrei pelo cano”, diz a música dos Paralamas do Sucesso. Entrar de gaiato pode não ser uma boa idéia, mas viajar o mundo inteiro sem gastar nenhum tostão – e ainda ganhar por isso – é uma experiência inesquecível. Quem quiser embarcar, a hora é esta. Todos os anos, dezenas de transatlânticos estrangeiros ancoram por aqui para a temporada de verão, com uma tripulação
que varia de 400 a 550 pessoas. Por lei, os navios que incluem no
roteiro cidades e passageiros brasileiros (com passagens vendidas aqui) têm a obrigação de contratar pelo menos 15% da tripulação também de brasileiros. É uma ótima oportunidade para quem quer ganhar um dinheiro extra na temporada de férias escolares. Os salários são em dólares e,
em média, quem está começando pode ganhar de US$ 800 (R$ 2.400)
a US$ 1.200 (R$ 3.600) por mês.

Um navio precisa de tripulantes que atuem nas mais diversas áreas: desde os oficiais até animadores de passageiros, garçons, barmen, dançarinos, professores de ginástica e músicos. Inicialmente, as empresas contratam para a temporada de verão sul-americana (cruzeiros pela costa brasileira e argentina), que vai de dezembro a março. Mas, se as companhias estiverem satisfeitas com o trabalho e o tripulante tiver disposição, há possibilidade de continuar no navio e ir para outros mercados, como o europeu e o caribenho.

Mas nem tudo é diversão. Para trabalhar a bordo são necessárias muita disciplina e determinação. A jornada pode durar até 12 horas por dia, numa rotina muitas vezes estressante. “Os tripulantes às vezes passam meses sem ver a família. Quem embarca pensando apenas na curtição, acaba desistindo”, afirma Renê Hermann, diretor da Costa Cruzeiros no Brasil, que opera no Brasil há 54 anos. Os dois navios da companhia que vêm ao País para a temporada 2003/2004 – Costa Allegra e Costa Tropicale – juntos empregam mil pessoas. Dessas, pelo menos 150 são brasileiras. Muitas delas acabam ficando na equipe de animação, responsável por entreter o passageiro 24 horas por dia com jogos na piscina, de adivinhação e também dança. Há dois anos, essa é a atividade do estudante de Turismo Bruno Cordaro, paulista de 23 anos. Animado, ele parte para a sua terceira temporada no Brasil. “Embarquei pela primeira vez em 2001, por indicação de amigos da faculdade que também trabalhavam a bordo. Foi tão bom que me convidaram para a temporada européia e eu topei”, conta ele.

Bruno chegou a ficar sete meses seguidos sem desembarcar. Ele
ficou em navios que passaram por países como Itália, Grécia e Espanha. “É maravilhoso. Além de ganhar bem, em comparação com o que receberia em terra, ainda conheci lugares lindos”, lembra. Com ele,
irão embarcar nos navios da Costa Cruzeiros os jovens Camila Turriani,
27 anos, Roberto Ferreira, 26, e Davi de Freitas, o Xirica, 21, todos monitores de passageiros. Cintya Gonçalves, 24, faz parte da equipe
de fitness dos navios. Professora da academia Competition, em São Paulo, ela irá dar aulas de ginástica ao ar livre e na academia flutuante. “Trabalho desde as oito da manhã até o início da noite. Mas depois
posso curtir a viagem”, conta.

O navio acaba se tornando a casa do tripulante. Ele tem a sua cabine própria – que, em geral, divide com mais uma pessoa. Faz as refeições com o resto da tripulação em um refeitório próprio e, quando a embarcação está no porto, tem horários livres para conhecer a cidade. No navio, tem pouca diversão. Não pode, por exemplo, usar a piscina, tomar sol e tampouco ir à discoteca. Assim como os passageiros, para usar o computador é necessário pagar uma taxa. Mesmo com tais restrições, a estudante de hotelaria Thaís Perfeito, 21 anos, está empolgada, se preparando para trabalhar a bordo pela primeira vez. Ela irá embarcar no navio inglês Island Escape, que chega ao Brasil em dezembro, e será ajudante de garçom no restaurante. “Nunca viajei de navio antes, e meu maior medo é enjoar”, brinca. “Sei que vou ter que trabalhar muito, ficar longe da família e do namorado, mas não poderia estar mais animada”, afirma. O maestro Paulo Burg, 36 anos, deve levar sua banda SP3 Voyage para o mesmo navio, mas essa já será a quarta temporada em cruzeiros marítimos. Eles tocam na piscina, durante o dia, e à noite no salão principal, lugar de jogos promovidos pela equipe de animação. “Temos que ser bastante flexíveis, tocar desde música brasileira a tangos argentinos. É um trabalho desgastante, mas vale a pena pelo retorno financeiro”, garante.

Ascensão – As chances de fazer uma carreira trabalhando em navios são grandes. Os animadores podem chegar a chefes de equipe e até a diretores de cruzeiros, em alguns casos. Enquanto os ajudantes no restaurante chegam a garçons titulares e até a maîtres. A bailarina clássica Adriana Locilento, 29 anos, foi uma das que conseguiram subir de cargo. Em 1996, ela foi contratada para participar da equipe de dança do transatlântico português Princess Danae. Desde então, rodou o mundo apresentando-se a bordo e hoje é coreógrafa não só do Danae, como do Funchal e do R5 Blue Dream, navios representados pela empresa Brazilian Cruises Representation (BCR). “Passo, em média, nove meses por ano no mar. Aprendi a falar espanhol e italiano e hoje ganho bem mais do que quando comecei”, diz. Mas, para seguir na profissão, é preciso abrir mão de coisas importantes. Milton Sanchez, diretor da BCR e responsável pela contratação de tripulantes para esses navios, lembra que a vida a bordo é muito sacrificada. “Fica difícil constituir família, por exemplo. Mas para quem quer conhecer o mundo, e ainda ganhar por isso, é uma excelente oportunidade”, diz.

Serviço
As empresas abaixo estão em fase de contratação de tripulantes brasileiros.
Costa Cruzeiros: 3145-3655
Island Escape: 3156-5600
Princess Danae, Funchal e
R5 Blue Dream: 3151-6393

O que vem por aí
A temporada de cruzeiros 2003/2004 terá sete grandes navios operando e deve durar quatro meses (de dezembro a março). O Island Escape, pela segunda vez no País, é mais informal e traz uma novidade para quem é fã de quitutes brasileiros: será instalada, em suas dependências, uma filial da Casa do Pão de Queijo. “Não temos noite de gala e os passageiros podem jantar com roupas mais simples, não é necessário traje esporte-fino”, diz Dado Nascimento, diretor comercial da Sun & Sea, que traz o navio ao Brasil. A empresa costumava trazer o Splendour of the Seas, que desde o ano passado não navega em águas brasileiras.

Já a Costa Cruzeiros trará o Costa Tropicale, com roteiros para o Nordeste do Brasil, e o Costa Clássica, com destino ao porto de Buenos Aires. A companhia investe, mais uma vez, nos cruzeiros temáticos. Além do consagrado fitness, terá também o de bem-estar, o Natal das flores e o prata à italiana, que levará o chef de cozinha Giancarlo Bolla. Esta será a primeira temporada do R5 Blue Dream por aqui. Fretado com exclusividade para a operadora de turismo CVC, o navio é confortável e tem capacidade para até 800 passageiros. Já os transatlânticos portugueses Funchal e Princess Danae, que frequentam a costa brasileira há 14 e sete anos respectivamente, oferecem roteiros com paradas em Fernando de Noronha. O Melody, da MSC, fará cruzeiros a Salvador. Um pacote de uma semana a bordo custa em média US$ 1.500.

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